sábado, 23 de outubro de 2010

Aula de Campo - Ceará Mirim e Barra de Maxarabguape







RELATÓRIO DE AULA DE CAMPO

Março de 2010

Apresentação

Neste relatório, serão apresentadas considerações sobre o que foi observado durante a aula realizada no dia 13 de março de 2010, cujo objeto de estudo foi a analogia da sociedade do século XVIII, observada nas construções da época, com a sociedade atual. Nossa aula teve como lugares de visitação a Árvore do Amor e o Assentamento São José no município de Barra de Maxaranguape RN, passando rapidamente pelo Engenho Verde Nasce indo para o Museu Nilo Pereira (Casa Grande), o Mercado Público e a Igreja Matriz em Ceará Mirim RN onde nossa aula acabou.

Desenvolvimento

Na aula de campo do dia 13 de março de 2010, foram visitadas as cidades de Barra de Maxaranguape e Ceará Mirim, numa viagem bem divertida que durou mais de 8 horas. Todos os lugares onde visitamos eram ricos em história, culturas e beleza natural. Nossa primeira parada foi na arvore do amor, que fica na praia dentro do município de Barra de Maxaranguape. Um lugar muito bonito, cheio de inspirações e com uma história bastante interessante. Dizem as lendas que se um casal amarrar um fitinha na árvore eles serão muito felizes e seus desejos se realizarão. Mas o que mais chamou a atenção mesmo foi o lugar em si, com uma paisagem de impressionar.

O Assentamento São José foi fundado a 11 anos pelo sindicato rural, nele foi observado que há uma falta de estrutura de vida muito significante. As pessoas do lugar só têm à disposição escola de 1º e 2° série, que foi conseguida com muito sacrifício. Para concluir o ensino escolar os assentados precisam se deslocar até as cidades de Caraúbas ou Barra de Maxaranguape. Também não existe uma estrutura de comércio suficiente, e é necessário muitas vezes se dirigir a uma dessas cidades citadas para adquirir suprimentos. Esse assentamento foi criado onde antes era uma fazenda privada, porém nenhum assentado participou de movimentos como os do MST. As ajudas vêm muitas vezes da prefeitura, como a doação da escola, e segundo o líder do grupo, o Sr Artur, quem mais ajudou a comunidade foi o ex secretario de agricultura Cabral durante sua gestão.

O povo do assentamento vive como uma família para que as coisas funcionem. As dificuldades fazem com que as pessoas do lugar se respeitem e ajudem unas às outras. Médico no lugar só umas vez por semana, e se for preciso assistência médica urgente, há a necessidade de dirigirem-se até a cidade mais próxima. Na comunidade de 40 famílias, abrigadas nas 40 moradias construídas pelo INCRA, já existe energia elétrica e água, extraída de um poço que no momento está sem caixa d’água. A formação de uma equipe de futebol garante um pouco de lazer aos habitantes. Os integrantes do São Paulo F.C. treinam num campo de areia sem muita estrutura, localizado no que eles chamam de área de lazer, que é nada mais nada menos do que o espaço no meio do assentamento, cercado apenas pelas casas.

Campo de Futebol

A fonte de recursos econômicos do assentamento é basicamente a agricultura, com o plantio de milho, jerimum, macaxeira, feijão e principalmente da banana, que teve toda a safra perdida pelas chuvas esse ano. O que deu para escapar foi o feijão, que não será suficiente para o sustento da população que certamente irá procurar outros meios. Como relatou o Sr Artur, alguns moradores procuram serviços fora do assentamento, em fazendas e nas cidades próximas, quando os recursos próprios não são suficientes.

A conclusão que se pôde tirar acerca do povo do assentamento São José é de uma sociedade cheia de dificuldades que consegue crescer aos poucos através de determinação, união, companheirismo e um espírito de família entre ambos.

Saindo do assentamento, a turma se dirigiu a cidade de Ceará Mirim, e passando rapidamente pelo engenho Verde Nasce, uma antiga construção que possui todo seu maquinário a vapor original, inclusive a cerca em frente de ferro, trazida da Inglaterra.

Infelizmente não se pode entrar no prédio, mas pelo o que se ouviu deu pra imaginar a sua importância histórica.

Um dos lugares onde mais deu pra explorar foi no Museu Nilo Pereira, que é a Casa Grande do antigo engenho Guaporé, construído por volta do século XVIII, tombada pelo governo do estado e restaurada em 1988. Era um engenho de mão de obra escrava. Na casa grande, onde brancos moravam e negros serviam, foi visto detalhes que mostram costumes da época, como a casa de banho que ficava na frente da casa grande a alguns metros de distância.

Ouvir o que se passa na casa era muito importante para os senhores, então havia os chamados ouvidos, que eram fendas nas paredes que dividiam os compartimentos, para que o som circulasse até o quarto principal. Esse quarto tinha janelas com visão ampla do engenho, para que os senhores tivessem controle sobre os escravos.

Os escravos também moravam na casa grande, porém em quartos muito estreitos com portas pequenas que mais pareciam janelas. Esses pequenos quartos ficavam bem próximo do quarto principal, para que os brancos tivessem conhecimento do comportamento dos negros. O quarto das mulheres não tinha parede do lado do corredor, era muito importante saber o que se passava la dentro, para evitar o safismo que já era praticado na época. E no quarto masculino tinha uma pequena porta que levava ao abatedouro, onde os rapazes tinam acesso às jovens escravas para a prática de sexo. Todo na casa foi construído estrategicamente já pensando nesses propósitos.


Outro fato interessante da época era a forma que eles tinham de se desfazer dos dejetos fecais. Como não havia banheiro na casa, o material era acumulado em barris, e recolhido constantemente por uma família chamada Merdeiros (atual Medeiros).

O prédio tinha uma construção neoclássica com colunas coríntias e arcos romanos. Era uma casa com eira, beira e tribeira, que representava o alto poder econômico da família.

Os móveis já não existem mais, mas a casa em si ainda está com sua estrutura original mantida. Durante um tempo serviu de abrigo para sem tetos e hoje está entregues aos morcegos e maribondos.

Nossa próxima parada: centro da cidade de Ceará Mirim. Construído por volta de 1880, o mercado público da cidade tem portões de ferro dentro de vãos com arcos e o telhado sustentado por uma grande estrutura de madeira apoiada em grandes colunas internas. Esse espaço foi muito utilizado no período da expansão da cana-de-açúcar, hoje ainda funciona como um centro comercial envolvido pela feira nas ruas a sua volta. Ao meio dia o mercado é o lugar mais procurado para a realização das refeições de feirantes, clientes e visitantes. Com o clima de cidade do interior, comidas típicas e no meio de uma arquitetura de mais de um século, o mercado público de Ceará Mirim expressa um pouco do passado do nosso estado.

A Igreja Matriz de Ceará Mirim é a terceira maior do estado e foi construída sob doações dos poderosos da época. Um detalhe é que todos que doavam deixavam sua marca na obra. Na calçada principal ainda há nomes de pessoas cravados como do Dr. Nilton Varela (doador da calçada).

Antigamente as cada família tinha seu lugar próprio dentro da igreja, que era reflexo das doações que faziam, e ninguém mais poderia usufruir desses espaços. Costumes esses que foram abolidos como forma de democratização.

A construção da igreja levou quase meio século para ser concluída e tem uma visão panorâmica sobre os campos ao redor da cidade. O prédio do século XIX é de arquitetura eclética, e tem características barrocas, como as pinturas e o local do coro que fica atrás dos fiéis para uma acústica melhor; góticas, com o altar e as torres na frente bem altas (que representa a proximidade do céu) e arcos quebrados (pontiagudos) no altar; e a maior parte da construção neoclássica.

Ao entrar na igreja você se impressiona com a quantidade de detalhes no altar, nas colunas, nos mármores, nos móveis, nos objetos e no tamanho em si. A precisão na construção é que dá a beleza da igreja.

E saindo da igreja nossa aula acaba. Com a impressão de termos vivenciado séculos passados, voltamos para casa com imagens na nossa mente que retratam nossas origens e os costumes de um tempo passado.







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